Depois de sobreviver bravamente por mais de 25 anos, sendo a bateria mais vendida do mundo em todos os tempos, a Pearl Export “sai de férias” e coloca em seu lugar uma bela, respeitável e surpreendente novidade, a Pearl Vision Series. A seguir iremos conferir um pouco mais sobre os três modelos que acabaram de aportar no Brasil.
Um pouco sobre a história da Pearl
É bom iniciar tudo ilustrando um pouco sobre a marca. A Pearl é uma empresa japonesa, fundada em Tokio por Katsumi Yanagisawa no dia 2 de Abril de 1946. Em 1973, a Pearl resolveu criar uma fábrica irmã radicada em Taiwan, essa fábrica foi a mola propulsora da Pearl, para se tornar o que é hoje. Nessa época eles levaram para lá toda a sua pesquisa, não apenas a tecnologia física com os seus maquinários, mas principalmente levando a maioria dos seus mais importantes funcionários japoneses, para implantar novos projetos até então planejados por mais de 30 anos no Japão. Essa “radicalização” em Taiwan, não veio apenas para reduzir o custo de fabricação dos produtos, mas sim facilitar a logística, pode-se destacar que também na época, Taiwan foi o local mais fácil para a implantação e crescimento acelerado de todo planejamento e criação Made in Japan. O resultado disso tudo, estamos acompanhando há muitos anos. A Pearl tornou-se altamente competitiva no mundo todo, sendo há muitos anos a maior fábrica de baterias do mundo (inclusive no volume de vendas), como atualmente ainda é, não mais com tanta folga como anos atrás, porém ainda mantendo esse status louvável e merecido. Independente de local físico onde os seus instrumentos são produzidos, tudo o que eles fazem é acompanhado do respeitado e aclamado conceito japonês de fabricação, conceito este criado em cima da fusão e equilíbrio de coisas concretas como, durabilidade, praticidade, simplicidade e funcionalidade, algo que podemos não apenas ver na Pearl, mas que é confirmado por outras marcas japonesas como a Tama e Yamaha, assim como quase tudo o que vem de lá em qualquer segmento industrial. Tudo o que vem destas marcas, têm um forte conceito concreto e prático, não sobrando muito tempo para “encheção de lingüiça”, não é comum os produtos japoneses como um todo, oferecem “bobagens” para se criarem meros e infundados argumentos de venda.
Após mais de 30 anos de sucesso com a fábrica em Taiwan e 60 anos de vida, a Pearl inaugurou recentemente uma nova fábrica irmã das outras duas, agora ali perto, na China. Assim como a implantação em Taiwan, a nova fábrica contou com toda a mão de obra e qualificação dos cardeais japoneses, para desenvolver uma nova indústria, capaz de produzir produtos focados em um custo mais competitivo, porém jamais abrindo mão do seu conceito e respeito, aplicando ali também na China, técnicas desenvolvidas no Japão e Taiwan, oferecendo para nós um produto competitivo, e com detalhes importantes, particulares e peculiares em sua fabricação. Será que deu resultado?! É o que vamos ver a seguir, ao analisar esta primeira leva de baterias Pearl made in China. O modelo Vision foi a vedete que a Pearl colocou no mercado para cumprir duas grandes e perigosas responsabilidades: 1) Colocar à prova o que esta fábrica poderá nos oferecer; 2) Substituir a Export, que por mais de 25 anos foi a batera mais comentada, vendida e comercialmente bem sucedida da história.
Enfim o teste
A Série Vision, é dividida em três sub-modelos oriundos da China, VX, VSX e VBX. O quarto modelo é a VMX, porém esta é produzida em Taiwan, sendo a VMX hoje, o modelo “semitop” da marca, uma categoria acima dos três modelos do nosso teste, ainda fora de disponibilidade no Brasil. Recebi da importadora Pearl do Brasil (Pride Music), um kit de cada modelo, das três que podemos achar no Brasil atualmente.
Detalhes e Diferenças
Vamos iniciar, focando o teste em cima do que temos hoje no Brasil, e não na opção mundial que é um pouco mais extensa e/ou diferenciada.
Todos os três modelos estão acompanhados do Novo Kit de ferragens 900 Series, contendo: 1 estante de prato reta (C900), 1 girafa (BC900), 1 pedal single (P900), 1 máquina de hihat (H900), 1 estante de caixa (S900). Vale citar também a nova versão da Caixa Sensitone na medida 14x5,5, novos e remodelados sistemas de tons flutuantes ISS, novas canoas, suporte de tons e canecas de surdo, entre outros detalhes que veremos a seguir.
Somando os três modelos que vieram ao Brasil, teremos atualmente 78 opções de escolha, distribuídos em 6 configurações de medidas e 13 acabamentos. As medidas dos tambores para os três modelos variam entre: Tons 8x7, 10x8 e 12x9; Surdos 14x14 e 16x16 ambos de chão; Bumbos 20x18 e 22x18; Caixa Sensitone 14x5,5. Outros tambores avulsos, com medidas variadas (dentro da limitação do modelo) podem ser encomendas junto ao importador oficial, com prazo médio de entrega variando entre 3 a 9 meses, consulte o revendedor autorizado da sua região ou na internet.
As peles para todos os modelos são as ProTone, fabricadas pela própria Pearl. Para os tons da VSX e VBX, as peles são de filme duplo no padrão Remo Pinstripe, para a VX as peles são de filme único no padrão Remo Ambasador Clear. O bumbo é equipado com a Perimeter EQ (ambas com anel abafador interno) de filme único no padrão Remo Powerstroke 3, sendo a batedeira transparente e resposta preta, ambas de filme simples. Na caixa a pele é porosa de filme único, padrão Remo Ambasador Coated. Na resposta de todos os tons as peles são de filme único de menor espessura, no padrão Remo Diplomat. Comparamos aqui as peles com a Remo Weatherking USA, meramente no sentido de característica, não cabendo a discussão sobre a mesma durabilidade ou qualidade geral.
Os cascos da Pearl Vision, utilizam o mesmo processo de fabricação e tecnologia dos modelos top de linha, chamado SST (Superior Shell Technology), unindo ainda o conceito de cascos da Pearl Reference, que oferece espessura distinta para tons, surdo e bumbo. Os Kits VX e VSX, possuem cascos em Birch & Basswood, com proporção de 50% para cada madeira. Os tons 8”, 10”, 12” e surdo 14” possuem cascos com 6 folhas, perfazendo uma parede de 7,5mm de espessura, nos bumbos e surdos de 16”, os cascos são construídos com 8 folhas, perfazendo 10mm de espessura. Segundo o fabricante, todos os surdos de chão possuem 6 folhas, mas nos kits que recebemos, nota-se visivelmente que o surdo de 14” possui a mesma espessura dos tons, já o surdo de 16 e bumbo sim, notei e medi 10mm. O kit VBX possui cascos 100% Birch, tendo a sua forma, quantidades e folhas e espessuras iguais aos modelos VX e VSX.
Todos os tambores nos três modelos, estão equipados com aros triple flange de 1.6mm, algo que até soa negativo como um argumento de venda, mas que na prática, no caso de tons e surdos, não representa tantos prós ou contras. O que realmente apresentaria muita coisa contra, são aros mal feitos, pois vejo muita bateria equipada com aros de 2.3mm ou mesmo die-cast, que funcionariam bem melhor se usassem estes “arinhos” da Pearl Vision.
Pearl Vision VX. Primeiro modelo da série e o mais econômico deles, conta com 4 opções de acabamentos revestidos, são eles: Jet Black (com aros e canoas pretas), cor preto sólido e tradicional, já conhecido nas épocas de Pearl Export EX; Ivory, revestimento com tonalidade marfim (creme); RB Blue, revestimento azul com tonalidade média, puxando para o clássico azul royal e Metallic Orange, como o nome sugere, laranja metálica (todas as 3 com aros e canoas cromadas). Os tom-holders deste modelo são de catraca, bem parecidos com os resistentes e clássicos TH-88.
Pearl Vision VSX. Este modelo oferece as mesmas características do modelo VX, com apenas duas diferenças mais destacáveis. As suas 4 opções de acabamento são mais luxuosas e “chamativas”, menos discretas por assim dizer. São elas: Black Sparkle, cor preta brilhante ‘purpurinada’; Champagne Sparkle, tonalidade brilhante ‘purpurinada’, puxando entre o prata e níquel; Orange Sparkle, reluzente cor laranja, também ‘purpurinada’ e brilhante; Strata Gold, acabamento com o aspecto mais vintage, inspirado no lendário Black Oyster, porém misturando a tonalidade amarelo ouro e preto, particularmente pra mim, a cor mais legal de todas elas. Os tom-holders deste modelo são os TH-900, já com sistema Unilock. Tanto a Pearl VX quanto a VSX, possuem cascos em Birch & Basswood.
Pearl Vision VBX. O Kit VBX, como já explicado anteriormente, possui cascos 100% Birch. Como esta madeira possui belos veios, fibras e uma com uma bela textura, a Pearl pôde explorar ao máximo alguns acabamentos com fundo transparente, expondo ainda mais os belos veios e textura natural do Birch. Todos os acabamentos da VBX são Laqueados (em UV para os mais engenhosos), as cores são: Clear Birch, acabamento laqueado natural, transparecendo totalmente a bela tonalidade de cor original da madeira; Ruby Fade, uma mistura da cor vermelha na parte superior, puxando pro preto do meio pro fim do tambor, transparecendo veios da madeira; Black Ice, um belo laqueado preto, com fundo sólido e não transparente, lembrando um pouco o clássico Piano Black, porém não tão lustroso e “espelhado”; Orange Zest, belíssimo laqueado laranja, com o fundo mais sólido do que transparente, com um belíssimo brilho e textura de cor; Concord Fade, única que vem com aros e canoas pretas, esta tonalidade varia do roxo azulado ao preto na parte inferior do tambor. Esta cor a meu ver, é a cor mais instigante entre as opções de acabamento da VBX. Os Tom-Holders também são do modelo TH-900 Unilock.
Um pouco Sobre Madeiras e Cascos
Para explicar um pouco sobre o conceito dos cascos Pearl, seguimos o raciocínio óbvio da física e da matemática, que é certo em números, porém pode variar conforme a madeira, pele, bordas, cola, afinação, ambiência, etc. Fisicamente falando, quanto mais fino o casco, mais grave e ressonante ele será, conforme a espessura aumenta, o casco ganha em volume, foco e definição, claro consideramos isso até uma espessura máxima aceitável, pois a partir dali a realidade é outra. A Pearl utiliza esse mix de espessuras para oferecer aos tambores menores, o maior corpo possível e ressonância possível, e para os tambores maiores que já possuem naturalmente muito corpo, que ganhem mais foco e definição nas notas, aumentando-se um pouco a sua espessura.
Atualmente quase todas as marcas conhecidas, e até as mais novas, oferecem kits intermediários 100% maple, birch, entre outras. É sempre importante ter em mente, e informar os nossos leitores que não há mágica. É claro que uma bateria ‘top de linha’, utilizando esta “mesma” madeira, custando até 5X mais, possui uma seleção de madeira ainda mais especial, obviamente o filé fica para os modelos top, e as madeiras não tão filés assim vão para os modelos mais baratos. Ainda bem que o mais importante, a maioria das marcas conseguem oferecer, que é dar um pouco do “gosto” do instrumento top aos usuários destes kits profissionais, porém fora do status de ‘top de linha’, oferecendo assim um pouco do belo timbre que uma batera top pode oferecer. O que não podemos cair no conto ou querer achar, é que uma Pearl Vision VBX Birch tenha o mesmo nível som, timbre e requinte de uma Master Custom Premium Birch BMP, ou uma Mapex ProM All Maple tenha o mesmo nível de som, madeira e timbre que uma Orion, pelo menos algumas das características mais notáveis destes modelos tão sonhados, felizmente estão presentes em baterias intermediárias da Pearl, Tama, Mapex, Sonor, Ludwig, etc, mesmo que em menor e coerente quantidade.
Os Nossos Kits
Transferindo isso tudo para o lado prático e palpável, vamos falar dos nossos kits e tentarmos assim achar o veredicto sobre eles.
Recebemos da importadora os seguintes kits: VX Ivory nas medidas 8x7”, 10x8”, 12x9”, 14x14” e 20x18”; VSX Champagne Sparkle 8x7”, 10x8”, 12x9”, 14x14” e 22x18”; VBX Black Ice 8x7”, 10x8”, 12x9”, 14x14”, 16x16”, 22x18”. Todos estes kits vieram acompanhados das ferragens 900 Series e caixa Pearl Sensitone. Notamos de cara, logo ao abrir a primeira caixa, o louvável esmero, carinho e preocupação que a Pearl possui com a sua embalagem, tudo muito bem embalado, confortavelmente protegido para desgastantes e longos dias de transporte. Todas as peças muito bem guardadas e contadas, não faltando parafuso pra nada, nem uma mísera arruela de parafuso, tudo está ali, prontinho para não faltar nada.
Acabamento Geral
VX Ivory. Esta cor meio creme e marfim, como o nome mesmo diz em inglês (ivory) é muito bonita. Sem dúvida uma cor que pode não ser a preferida da maioria das pessoas, porém será difícil achar alguém que torceria o nariz para ela. O revestimento é bonito, simples, e de cara nota-se que é extremamente resistente, de fácil limpeza e com uma beleza sutil, nada extravagante e longe de não ser elegante.
VSX Champagne Sparkle. Este revestimento é belíssimo, qualquer luz em cima dele já joga um brilho de ofuscar os olhos, muito bonito mesmo! Alguns acharão esta cor muito chamativa, mas quem gosta de algo menos ortodoxo, vai curtir muito, não só esta do nosso teste, mas toda a linha VSX. Estes revestimentos especiais, presentes não só na Pearl, mas em diversos modelos intermediários de marcas grandes, são uma beleza, dignos de acabamento de baterias top de linha.
VBX Black Ice. Este acabamento sim é àquilo que chamamos de “pretinho básico”, ou seja, longe de ser feio ou sem graça, o “pretinho básico” cai bem na maioria dos gostos. A Laqueação é bem feita e lisinha, claro levando-se em conta o valor e categoria dela, não tenho como exigir aqui um laqueado “a La” Pearl Reference ou Master Custom. Só achei estranho o fechamento da folha exterior, senti ali um espaço na vertical, de fora a fora, que nada mais é do que o fechamento da folha, um pouco saliente demais para um acabamento externo, porém nada demais, algo que ainda deixo de criticar, salvo a sua proposta e valor de mercado, mesmo assim já vi baterias na mesma categoria, com laqueações ainda melhores.
Tanto os tambores Basswood/Birch como os 100% Birch, são muito bem feitos e possuem o mesmo nível técnico, não ficando diferença na qualidade da construção dos cascos, e sim só a diferença no mix de madeiras. Não foi só promessa, de fato o sistemaSST da Pearl, que já é utilizado há muitos anos, mas não tão divulgado como agora, apresenta um casco extremamente bem colado, que até parece ser um casco de madeira maciça e não fatiado em folhas. As bordas dos três modelos, seguem o mesmo padrão dos modelos Taiwan e Japan, são muito bem cortadas em 45º em todos os tambores. As peles se assentam muito bem em um tambor com este nível de borda, acomodam as peles de maneira íntegra e confortável, sem dúvida algo imprescindível para que o tambor ao ser tocado, emita o verdadeiro som da madeira, não apenas da pele e baqueta. Os cascos dos três modelos, são inteiramente bonitos, por dentro e por fora (salvo o fechamento das folhas que poderia ser um pouco mais “sutil”), muito bem lixados e acabados.
As novas canoas dão um requinte extra e inédito ao instrumento, apresentando uma aparência de bateria não só profissional, mas requintada, não deixando dúvidas sobre a sua robustez, extrema simplicidade e praticidade. O sistema ISS acomoda muito bem os tambores, com segurança e um visual “clean”, mostrando um pouco mais do estilo clássico da última geração do modelo Export, porém renovado para esta nova era.
Tons e Surdos
Como já vimos acima, o modelo VX vem com pele de filme único, a VSX e VBX filme duplo. Algo muito bom pelo menos para o nosso teste, pois assim conseguiremos traçar 3 paralelos distintos.
Nos modelos VX e VSX, os tons de 8, 10, 12 formam um belo trio, casam muito bem entre si. A pele de filme único deixa o som da VX, como um todo, mais aberto e ressonante, com mais harmônicos e “sobras”, algo que eu particularmente gosto muito nos tons menores e nem tanto nos maiores. Na VSX nota-se estas mesmas características da VX, porém com as peles duplas, o som fica com um pouco menos de “sobra”, mais pronto, definido, ganhando um pouco de grave e maciez, mas perdendo um pouco no volume. O timbre como um todo é muito bonito tanto com pele única ou dupla. O Surdo de ambos os modelos soaram com ótima definição, com um grave ainda mais macio no modelo VSX, sem sobras demasiadas, com um belo volume e presença, oferecendo aos tons, o ponto final ideal em uma virada. Ambos os modelos (VX e VSX) respondem muito bem em baixos e altos toques, se precisar de volume, têm, se precisar de dinâmica e controle, ela vai responder além do som de pele e baqueta, aqui realmente a folha de birch interna, assim como as outras espalhadas pelo casco, fazem bem o seu papel. Assim como na Tama Superstar já testada na edição 129, aqui o mix de madeira funciona de verdade, ouve-se claramente as suas respectivas características, o grave redondo, bonito e controlado do Basswood da Pearl, com as belas freqüências agudas e graves de um bom Birch. De cara, essa pequena mudança em relação à sua antecessora, nos apresentou um belo som de tambor, não desmerecendo a lendária Pearl Export, mas aqui já nestes dois modelos de menor custo entre as intermediárias, nota-se uma evolução no quesito timbre e volume.
No modelo VBX, por usar um casco todo em Birch, conseguimos notar mais claramente as características do Birch, ou seja, ótimos e cortantes agudos, um belo e definido grave e relativamente pouca freqüência média, o que dá uma “limpada” geral no som dos tambores, diminuindo ainda mais os eventuais overtones (ou harmônicos indesejáveis), e dando destaque para os harmônicos desejáveis e ressonância real do tambor. Os tons neste modelo soam de maneira brilhante, cortante, focada, com uma bela e clara resposta em todos os toques. O tom de 8 realmente pode ser afinado bem agudo (assim como na VX e VSX), que não irá soar velado e entupido, assim como pode ser afinado mais grave, trabalhando ‘versatilmente’ em diversas afinações. Ao tocar com a VBX, gostei muito de trabalhar com os tons de 8 e 10 num intervalo menor, afinados mais alto, com o tom de 12 puxado mais pro grave, com um intervalo maior do que o 8-10, deixando o setor grave do instrumento realmente “na cara”, pesado, definido, limpo, um treme terra geral do 12 ao 16. O tom de 12 funciona muito bem em afinações mais médias, e melhor ainda quando buscamos o seu grave, o surdo de 14, forma uma bela seção treme-terra junto com o 16, ambos os surdos bem graves, cheios, encorpado, sem muita sobra. Assim como destaquei em outro teste, o bumbo Tama como algo a ser batido, destaco os surdos Pearl também neste quesito, da Soundcheck à Masterworks, sempre conseguimos tirar um baita som de surdo, de maneira rápida e fácil.
Os três modelos como um todo são fáceis de afinar. Se você é um baterista iniciante, vai achar facilmente o seu som, se for mais engenhoso e experiente, vai pesquisar ainda mais, e duvido que não conseguirá achar um resultado satisfatório. Sobre as peles, todas elas funcionam muito bem, não são de primeiríssima linha, assim como quase todas as baterias nessa categoria, porém estão longe de deixar o som da bateria a desejar, mas sem dúvida, com peles escolhidas a dedo, por bateristas mais experientes que já têm o seu som definido, as três Pearl Vision “falarão” ainda mais.
Bumbo
Bumbo é outra coisa muito positiva no mundo Pearl, da mais barata à mais cara, é difícil encontrar um som de bumbo “murcho”. Na Vision não é diferente, o cascão de 10mm oferece uma bela projeção e volume. Cada nota é como um tiro, certo, forte, definido, presente e o melhor, muito fácil de ser controlado, ou melhor, mal precisa ser controlado. Tanto com a pele fechada quanto aberta, microfonado ou não, ali está o som bem cortante, penetrante e forte. Mesmo com a pele fechada, consegue-se um ótimo e surpreendente controle da ressonância e dos harmônicos em geral (overtones ou não), com a pele furada, o som ganha em definição e kick, perdendo um pouco em grave e punch, mas ganhando acima de tudo, facilidade de se trabalhar mais tranquilamente em qualquer situação. Isto tanto para o bumbo VX de 20x18, quanto para os bumbos VSX e VBX 22x18. Claro, considerando que um bumbo de 20x18 possui naturalmente um som mais kickado e definido, um 22x18 mais grave, com mais volume e peso.
O canhãozinho 20x18 funciona ainda melhor com a pele sem furo, o grave vem no peito, não parece que estamos tocando em um bumbo de 20. Afinado mais alto, ele funciona muito bem pra quem busca uma sonoridade mais “jazz”. Ao se fazer um furo nesse bumbo de 20 e mesmo no 22, perde-se um pouco a graça, isso acusticamente falando, porém ao se microfonar a realidade é outra, e sem dúvida microfonado ele funciona muito bem e melhor para 90% das ocasiões, do que sem furo. Sinceramente não consegui achar uma considerável diferença entre os bumbos de 22x18 VBX e VSX. Eles soam muito iguais, no mesmo nível e qualidade de timbre, não cabendo aqui uma distinção entre prós e contras. Algo muito positivo pra quem pensa em pegar um kit VBX só por causa da madeira, e não pelo conjunto da obra. Sobre o abafamento destes bumbos, não sugiro nada além de uma pequena almofada, ou nem isso, algo bem pequeno mesmo, só pra não fazer o batedor do pedal ficar “rebotiando” a cada toque. Sinceramente eu teria muita dó em ter que abafar demais estes bumbos, porém para cada realidade há uma distinta necessidade. A base do bumbo para fixação dos tons, é bem parecida com o modelo antigo e clássico, porém com o design mais bonito, mais elegante, mantendo a mesma praticidade e principalmente, indiscutível segurança e estabilidade oferecida aos tons ali suportados. Há um ponto que eu achei negativo nestes bumbos, foram os seus pés telescópio. Não sei se foi algum erro de projeto, ou a minha ignorância, porém não consegui deixar os bumbos com a frente mais empinada. Eles ficam muito pra baixo, prejudicando assim o ajuste mais regular do pedal, o que tenho certeza, atrapalha muitos bateristas. Não levo isto como algo que possa decidir tão negativamente ao bom funcionamento do kit, porém a Pearl realmente pode oferecer um pé que pelo menos suba um pouco mais a frente do bumbo, ou que tenha mais uma posição de fixação, talvez um pouco mais reto ele já ficaria perfeito.
Caixa
A caixa Sensitone de 14x5,5 que acompanha os kits Vision, é também um fruto remodelado do já clássico modelo Sensitone. Esta caixa possui casco bem fino em aço, aros de chapa fina 1.6mm e 8 afinações. De fato julgo-a mais como uma Pearl Steel Shell remodelada e melhorada (que acompanhava os antigos modelos Export) do que uma Nova Sensitone. A sonoridade até remete certos pontos à Sensitone clássica, mas perde um pouco, no timbre e volume dos rimshots, principalmente pela falta de um aro de pelo menos 2.3mm, como o que acompanha nas tradicionais de Taiwan, que ouso dizer, serão as lendárias Ludwig Supraphonic do futuro. Do mesmo jeito que hoje em dia todo mundo venera uma Supraphonic, futuramente se a Pearl tirar de linha as Sensitones Clássicas, todo mundo começará a venerá-las do jeito que merecem.
O que a caixa do nosso teste tem de melhor em relação à original, é o automático, este sim é capaz de causar inveja a quase todos os concorrentes da mesma categoria. O automático se chama SR900 Duo Motion, que possibilidade trabalhar em duas posições, abrindo a esteira de maneira horizontal (como vem de fábrica), ou com uma fácil montagem, consegue-se adaptá-lo para que abra para fora, de maneira horizontal, algo realmente útil e muito bom, para quem pensa em fazer um upgrade nesta caixa, colocando um aro de madeira ou Die-Cast. O acionamento do automático é preciso, seguro e macio, fora o seu design que é muito acima de sua categoria, lindo mesmo! A sua sonoridade é muito bonita, com ótimo volume e uma sensibilidade surpreendente no som de esteira. O rimshot é bem cortante, aberto, sem muito corpo e com alguns overtones que podem incomodar, alguns bateristas, principalmente àqueles que gostam de um som mais “mumificado”, de qualquer forma o rimshot soa brilhante, cheio, explosivo e com boa definição. Aposto que o aro 2.3mm aqui, daria uma potencializada no corpo do rimshot e principalmente no volume e definição do sidestick (som de aro). Como um todo, esta caixa tem muito mais qualidades a oferecer do que críticas a se relevar, é sem dúvida um belo instrumento, que nada deixa a dever ao restante do kit, sendo uma ótima companhia para o bumbão de 20 ou 22 e aos doces e belos tons destes kits. Uma dica bacana off teste, que deixo para esta caixa, é colocar nesta caixa um par de aros de madeira maciça e bem dura, a mistura de um aro de madeira com uma caixa de metal, principalmente se for de aço, fica maravilhosa, quem experimenta ou ouve fica curioso e surpreendido, experimente!
Ferragens
Todas as ferragens que acompanham o kit, foram descritas acima, agora vamos falar um pouco mais sobre elas na prática. Em primeiro lugar, vale a pena ressaltar o título que elas receberam logo em sua estréia, abocanhando o M.I.P.A. 2007, como melhor kit de ferragens para bateria. Este prêmio é como um Oscar (dos instrumentos musicais), promovido pela Musikmesse, a maior feira de instrumentos musicais do mundo na Alemanha.
A Estante de Caixa S900 é leve, bonita, com pernas duplas, belos e firmes pés de borracha. Ela proporciona à caixa do kit e a qualquer outra, um bom conforto e estabilidade para medidas entre 10 a 14”. O seu design é belíssimo, lembra o desenho dos modelos mais top da marca, como S1000 e S2000, porém com a simplicidade e praticidade de uma estante mais econômica. A borboleta que regula a angulação da parte superior da caixa é excelente, muito fácil de ser acionada e regulada, nunca senti tanto conforto ao regular uma caixa em uma estante de um kit nesta categoria.
O Pedal P900, é belíssimo em seu design e não fica só na beleza. O batedor foi remodelado, possui 2 faces, feltro e plástico. O seu calcanhar tem o mesmo ajuste dos PowerShifter P1000 e P2000 Eliminator, com 3 possibilidades de ajuste da inclinação da sapata, possibilitando assim, três diferentes ajustes de acionamento, light, normal e heavy. O pedal é macio, com boa resposta e real possibilidade de se trabalhar muito bem, tanto mais duro ou macio, funcionando tranquilamente pra todo mundo, sem deixar quem toca leve ou pesado, na mão. A sapata não possui muitas ranhuras, o que a torna mais lisa, facilitando assim para quem toca muito com técnicas de deslizamento do pé sobre o pedal. Acertaram em cheio neste pedal, deixando o antigo P100 no chinelo.
As Estantes de prato Reta C900 e Girafa BC900, são lindas em seu acabamento e detalhes, não ficando por menos a sua robustez e estabilidade. Ambas possuem 2 estágios de altura, as pernas abrem muito bem, funcionando perfeitamente para quem for agregar à ela algum tambor avulso, extensores, etc. As memórias e as borboletas de travamento são lindas, dão um aspecto de estante Top. A parte de encaixe do prato é muito confortável e segura, as novas borboletas são bem simples, e efetivas, protegem bem os pratos, assim como os seus feltros e claro, o destaque principal vai para a parte de cima das estantes, o belíssimo e novo sistema Unilock, com borboleta independente, que agrega beleza e praticidade no ajuste dos pratos. A estante Girafa também é híbrida, ou seja, funciona como reta ou girafa, ao fechar ela se posiciona como uma reta, o que facilita bastante o transporte e montagem.
A Máquina de Hihat H900, acompanha o excelente nível geral das ferragens. As pernas são duplas e móveis, ajustando-se facilmente para trabalhar com qualquer tipo de pedal duplo, sem ficar esbarrando ou apanhando para tocar o segundo pedal. A sapata não possui base fixa, mas ali está novamente a bela e ótima sapata. O ajuste de tensão permite acertarmos o peso da pisada em diversas tensões. A presilha de hihat é simples, funciona bem, sem pontos a se destacar ou criticar. Mais uma vez a memória da regulagem de altura oferece a esta ferragem um belíssimo aspecto top. Como um todo ela funciona muito bem, leve, rápida, silenciosa, é bem estável, não balança à toa e sem dúvidas irá responder muito bem para todos os gostos e desgostos. Em se tratando de uma máquina de hihat para acompanhar um kit intermediário, temos aqui algo que cumpre muito bem o seu papel e até faz uma “hora extra” no quesito beleza.
Conclusão
Uma renovação na categoria intermediária da Pearl, já se fazia necessário há alguns anos. Jamais podemos desvalorizar o sucesso e competência de sua antecessora, a Export, ainda mais por ser a bateria mais vendida de todos os tempos, com mais de dois milhões de unidades vendidas até hoje. Mas de fato esta renovação chegou em boa hora, e o mais legal e importante, chegou com algo que faz a diferença e não chega pra somar, mas sim pra retomar o pedaço da sua pizza, que era bem grande há 10, 15 anos atrás e que ultimamente estava sendo devorada pela concorrência. Eu acredito que a partir de agora, os concorrentes deverão estar com os olhos colados na Pearl Vision, primeiro pelo potencial de produto que ela é (seja ela VX, VSX, VBX ou VMX), assim como ficar de olho no potencial do que a nova fábrica da Pearl na China poderá oferecer agora e no futuro.
Parabéns à Pearl pela nova fábrica, e acima da fábrica, parabéns pela série Vision, que cumpre muito bem o seu papel de retomar a sua grande fatia entre as baterias intermediárias profissionais. Enquanto a você, nosso amigo leitor, se ainda estiver com dúvida no que comprar, entre os três modelos citados aqui, escolha em primeiro lugar, a que cabe no seu bolso e em segundo lugar a que você achar mais bonita, pois escolher qualquer uma delas, apenas focando só na VBX, achando que ela é muito superior pela madeira, é um engano. Fique tranqüilo para escolher a sua Vision por outro motivo que não seja som, pois de fato todas elas lhe oferecerão o máximo neste quesito, sendo ela VX, VSX ou VBX.
Para a felicidade de todos nós, independente de gosto pessoal, de preferir essa ou àquela marca, ganhamos mais uma belíssima opção de escolha, que vem somar para o nosso lado de baterista e amante dos tambores, não apenas somando para o lado comercial, como acontece com muitos fabricantes genéricos, que focam apenas no preço, faturamento e lucro, com o produto sendo um mero detalhe, sem a mínima ideologia ou pensamento no futuro de sua marca. Parabéns à Pearl mais uma vez e Parabéns com “P” maiúsculo para todas as marcas de vanguarda, que lutam e batalham pela ideologia do seu nome e da posteridade e respeito de sua marca, proporcionando para nós instrumentos como este!